quinta-feira, 25 de julho de 2013

Justiça Para Que(m)?


-Ei, passe o celular e todo o dinheiro que você tem aí no bolso também! Foi o que disse aquele garoto que nem 15 anos aparentava ter ao me abordar numa esquina perigosa da cidade. Ainda entorpecido pela pequena quantidade de crack que havia consumido minutos antes de declarar mais um assalto, o moleque precisava quitar uma dívida com o traficante que lhe fornecia a droga antes que fosse tarde demais. No entanto, naquela mesma noite fui informado de que aquele adolescente marginalizado havia sido flagrado por uma equipe policial e, ao tentar resistir, foi bruscamente assassinado. Fui à delegacia a pedido de um dos policiais envolvidos na operação para recuperar o que havia sido roubado. Ao chegar ao local, ouvi a voz chorosa de uma mãe desesperada que gritava em um dos corredores: “Levaram mais um filho, meu filho morreu porque não teve a chance de ir à escola.” O menino, afetuosamente chamado de pingo, era apenas mais um dos filhos órfãos desse país. Apenas uma entre as milhões de vítimas assoladas por um sistema de exclusão social que agride e destroi vidas.

Robson Muller.  

domingo, 5 de maio de 2013

Lembra-se?



Lembra-se das vezes que olhei para o que estava além de você?
Lembra-se de como você me sentiu submergir para dentro do seu oceano?
É estranho observar o passado e perceptível entender que já não somos um sol
E já não há o que questionar ou reconhecer naquela história de amor jovial.

É como se eu pudesse guardar todas as suas feições dentro de um baú de madeira
Quando as observo cuidadosamente aos domingos pela manhã
E a luz daquele sol que um dia iluminou seu sorriso continua surdindo
Mostrando-me que os sonhos existem.

Vivem sobrevoando as lembranças mais sensatas
E aquelas menos equilibradas também
Como a voracidade de uma canção de jazz e a sensibilidade de uma poesia
Que desestabilizam a linha tênue da racionalidade.

Então respiro lentamente enquanto observo o futuro de perto
Sentindo as nuances que percorrem o espaço mais arbitrário da alma
E quando percebo que o nosso amor se esvai entre as recordações insanas
Fecho os olhos para tê-la em meus braços outra vez.

Robson Muller

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Precipícios




Primeiro passo no ato
Abstinências e palpitações
Madrugada insone
Agoniza.

Segundo passo na lama
À frente um precipício
Curvando-se da dor
Precipita.

Terceiro passo no alto
Calafrios e tormenta
O fado de uma vida breve
Paralisa.

Quarto passo no horizonte
Finda o estranho saudosismo
E o desfazer da carne
Eterniza.

Robson Muller