domingo, 26 de janeiro de 2014

Riso


O sol já batia na janela
Quando o seu riso meu rosto beijava
E enquanto o mundo dormia lá fora
Nossos corpos dançavam eternamente.

No aconchego de uma cama estreita
Falamos de histórias e amores passados
Quando de repente um beijo roubado
Entrelaçou-me em tua pele e deixei...

Que teus olhos penetrassem depressa
Os desejos mais vivos em mim
Tão azuis quanto o céu de domingo
E da ternura espalhada em você.

Que tua boca percorresse meu corpo
Descobrindo prazeres imensos
Tão feroz quanto o som dos acordes
Que embalavam as canções de Renato.

Seu nome me faz pensar em sorriso,
Suspiro e em histórias intermináveis
Um sorriso aberto, largo e alegre
Como um bloco de foliões no carnaval.

Robson Muller


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Justiça Para Que(m)?


-Ei, passe o celular e todo o dinheiro que você tem aí no bolso também! Foi o que disse aquele garoto que nem 15 anos aparentava ter ao me abordar numa esquina perigosa da cidade. Ainda entorpecido pela pequena quantidade de crack que havia consumido minutos antes de declarar mais um assalto, o moleque precisava quitar uma dívida com o traficante que lhe fornecia a droga antes que fosse tarde demais. No entanto, naquela mesma noite fui informado de que aquele adolescente marginalizado havia sido flagrado por uma equipe policial e, ao tentar resistir, foi bruscamente assassinado. Fui à delegacia a pedido de um dos policiais envolvidos na operação para recuperar o que havia sido roubado. Ao chegar ao local, ouvi a voz chorosa de uma mãe desesperada que gritava em um dos corredores: “Levaram mais um filho, meu filho morreu porque não teve a chance de ir à escola.” O menino, afetuosamente chamado de pingo, era apenas mais um dos filhos órfãos desse país. Apenas uma entre as milhões de vítimas assoladas por um sistema de exclusão social que agride e destroi vidas.

Robson Muller.  

domingo, 5 de maio de 2013

Lembra-se?



Lembra-se das vezes que olhei para o que estava além de você?
Lembra-se de como você me sentiu submergir para dentro do seu oceano?
É estranho observar o passado e perceptível entender que já não somos um sol
E já não há o que questionar ou reconhecer naquela história de amor jovial.

É como se eu pudesse guardar todas as suas feições dentro de um baú de madeira
Quando as observo cuidadosamente aos domingos pela manhã
E a luz daquele sol que um dia iluminou seu sorriso continua surdindo
Mostrando-me que os sonhos existem.

Vivem sobrevoando as lembranças mais sensatas
E aquelas menos equilibradas também
Como a voracidade de uma canção de jazz e a sensibilidade de uma poesia
Que desestabilizam a linha tênue da racionalidade.

Então respiro lentamente enquanto observo o futuro de perto
Sentindo as nuances que percorrem o espaço mais arbitrário da alma
E quando percebo que o nosso amor se esvai entre as recordações insanas
Fecho os olhos para tê-la em meus braços outra vez.

Robson Muller

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Precipícios




Primeiro passo no ato
Abstinências e palpitações
Madrugada insone
Agoniza.

Segundo passo na lama
À frente um precipício
Curvando-se da dor
Precipita.

Terceiro passo no alto
Calafrios e tormenta
O fado de uma vida breve
Paralisa.

Quarto passo no horizonte
Finda o estranho saudosismo
E o desfazer da carne
Eterniza.

Robson Muller 

sábado, 15 de dezembro de 2012

Abaixem as armas


Crianças de rua em São Paulo


A cidade está fria
Corredores vazios
Corações iludidos
E um sorriso sombrio.

A criança ainda sonha
No mundo perdido
Espera risonha
O amor prometido.

Larguem as armas
A lembrança é crua
Eram anjos sem asas
Correndo nas ruas.

Abaixem as armas
O caos e o medo
A vida disfarça
Cenários, enredo.

Sistemas e capital
Quem pode garantir
O sentido do real
E a existência do devir?

Desumano e banal
Avesso ao horizonte
Abarcado pelo mal
O mundo se consome.


Robson Muller .

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Quando o coração fica livre para voar


 
 

Quando o coração fica livre para voar

E a alma se desprende do âmago da dor

Ele palpita e espera pelo mar

Ondas infinitas, coloridas de amor.
 

Quando o coração fica livre para voar

E os pés descobrem um novo mundo

O sorriso absoluto canta para deleitar

A canção de amor escrita no fundo.
 

Quando o coração fica livre para voar

E o amor acontece de repente

Os olhos se entregam na ingenuidade ocular

Como a brisa branda que se sente
 

Quando o coração fica livre para voar

E a vida se enche de planos

A dança faz sentido como se fosse flutuar

Numa varanda decorada com sonhos
 

Quando o coração fica livre para voar

E o destino escreve outros versos

O tempo parece congelar

Como fotografias de sorrisos inversos.
 

O coração está livre para amar

E o amor entrelaçado à trajetória

Sonhando para quando o bem-querer chegar

Redigir uma nova história.
 

Robson Muller

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Criança livre no vento






A manhã despertou
Trazendo novos planos
Aquelas palavras foram jogadas
E se perderam depressa.


Depois da janela
Uma vida lá fora
Aguardava-me
Ansiosa e contente.


A confiança consome
Caminho leve e risonho
Sentimento frustrado?
Ou amor esgotado?


Quando o amor se apaga
O mundo seduz
Chama pra viver
Dançar, se perder por aí.


Livre, agora
Sou da noite
Sou das ruas
Sou da vida!


Longe daquele amor
Que foi domado
Ironizado
É passado.


Não volte amor
Preciso de um tempo
Sem suas prisões
Regimes e pretensões.


Sem você sou criança
Correndo no vento
Sou pássaro, infância
Liberdade e talento.

Robson Muller.