-Ei,
passe o celular e todo o dinheiro que você tem aí no bolso também! Foi o que
disse aquele garoto que nem 15 anos aparentava ter ao me abordar numa esquina
perigosa da cidade. Ainda entorpecido pela pequena quantidade de crack que
havia consumido minutos antes de declarar mais um assalto, o moleque precisava
quitar uma dívida com o traficante que lhe fornecia a droga antes que fosse
tarde demais. No entanto, naquela mesma noite fui informado de que aquele
adolescente marginalizado havia sido flagrado por uma equipe policial e, ao
tentar resistir, foi bruscamente assassinado. Fui à delegacia a pedido de um
dos policiais envolvidos na operação para recuperar o que havia sido roubado.
Ao chegar ao local, ouvi a voz chorosa de uma mãe desesperada que gritava em um
dos corredores: “Levaram mais um filho, meu filho morreu porque não teve a
chance de ir à escola.” O menino, afetuosamente chamado de pingo, era apenas
mais um dos filhos órfãos desse país. Apenas uma entre as milhões de vítimas
assoladas por um sistema de exclusão social que agride e destroi vidas.
Robson Muller.
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